A Ciência Cria as Superstições

Como de costume, os jornalistas têm tachado as novas religiões japonesas de falsas e supersticiosas. Eles insistem em afirmar que, aproveitando-se da situação caótica que o povo japonês passou a viver após a Segunda Guerra Mundial, essas religiões começaram a aparecer, confundindo ainda mais as pessoas, e que isso é inaceitável. Eles ficam presos a isso e nem tentam descobrir as causas desse fenómeno. Definem que as novas religiões são todas falsas e supersticiosas, baseados apenas em boatos e em seu entendimento pessoal. Não podemos deixar de nos sentir decepcionados com a superficialidade da visão desses jornalistas. Por esse motivo, como um de nossos deveres, sentimos a necessidade de prestar-lhes um grande esclarecimento.

Não queremos condenar totalmente essa atitude, pois, como a base de seu raciocínio é materialista, é natural que eles definam como superstição tudo aquilo que não veem. Se estivéssemos em seu lugar, obviamente agiríamos da mesma forma. Negando-se, porém, a existência do invisível, como ficaria o mundo? Talvez o materialismo o levasse a uma situação calamitosa. As relações de amizade e de amor, inclusive o relacionamento entre pais e filhos ou entre irmãos, seriam definidas com base em cálculos de vantagens e desvantagens. A sociedade se tornaria fria como um cárcere de pedra e nem mesmo eles haveriam de desejar tal situação. Vemos, pois, que o modo de pensar dos jornalistas a que nos referimos é limitado e sem profundidade.

Analisemos a situação real do mundo em que vivemos.

Talvez não se saiba, mas é considerável o número de pessoas supersticiosas entre a classe dos intelectuais que possuem formação de nível superior. Há tempos, li uma estatística sobre os diferentes tipos de superstições que existem em cada país, e a Alemanha, considerada uma das nações mais avançadas no ensino das ciências, acusava o maior número. Desse modo, notamos que a ocorrência de superstições é diretamente proporcional ao avanço da ciência. Sendo assim, qual seria a causa disso? Eis como interpretamos o fato:

Durante longo tempo, recebemos, nas escolas, um ensino materialista cujas bases são teóricas. Entretanto, quando terminamos os estudos e nos integramos à sociedade, encontramos uma realidade que não corresponde ao que aprendemos. Em consequência, a maioria das pessoas começa a ter dúvidas porque, quanto mais elas agem em conformidade com as teorias, piores são os resultados. Os mais inteligentes pensam, então, em buscar um novo “saber sobre o mundo”. Como não existe um local para estudar isso, começam a aprender sozinhos. Alguns se “formam” em pouco tempo; outros, todavia, levam muitos anos. Trata-se, na verdade, de um segundo aprendizado, praticamente o oposto do primeiro, que custou tanto sacrifício. Contudo, é um aprendizado prático e confiável, que traz resultados positivos, se aplicado no dia a dia. Os mais bem capacitados tornam-se “doutores” nesse novo “saber sobre o mundo”. Tendo enfrentado tanto as amarguras quanto as alegrias da vida, tornam-se experts. Nesse momento, normalmente já adentraram a velhice e, por isso, muitos chegam ao final da vida sem alcançar o sucesso. No entanto, existem aqueles que se sobressaem, como o Sr. Yoshida(50), atual primeiro-ministro do Japão, pessoa vivida cuja atitude irreverente e notória habilidade política são manifestações desse “saber sobre o mundo”.

Com essa explicação, penso que entenderam a causa das superstições. Em resumo, ao se colocar em prática os conhecimentos adquiridos na escola tidos como absolutos, e ao ocorrer o fracasso, sobrevêm dúvidas. Nesse momento, torna-se muito fácil as pessoas ingressar em religiões falsas e supersticiosas. Podemos dizer, entretanto, que nenhuma dessas religiões realmente esclarece as dúvidas. Desse modo, a culpa está no conhecimento, que se encontra distante da realidade. Por este princípio, não há como negar que um dos aspectos da educação científica contemporânea, na realidade, é a criação de superstições.

Para finalizar, quero dizer que reconhecemos que, atualmente, as religiões falsas e supersticiosas são numerosas, como dizem os jornalistas, mas achamos errado generalizar porque, sem dúvida, existem algumas às quais não cabem tais designações. Ora, definir como superstição aquilo que não o é, também constitui uma espécie de superstição. Nesse sentido, gostaria de pedir aos jornalistas que continuem denunciando as religiões falsas e supersticiosas, mas que tomem cuidado para não tacharem com esses termos as que não o são, pois esse procedimento representa um obstáculo para o progresso da cultura.

30 de janeiro de 1950
Alicerce do Paraíso vol. 1

(50) Shigueru Yoshida (1878–1967), primeiro-ministro do Japão de 1946 a 1947 e de 1948 a 1954.

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