Aguardar O Tempo Certo

Quando observamos os vários segmentos da sociedade, notamos como é grande o número de fracassados.

Se o resultado do fracasso se restringisse ao sofrimento do indivíduo e este o aceitasse como azar ou falha própria, a questão estaria encerrada. A realidade, entretanto, é que isso não ocorre. O infortúnio de uma só pessoa abate a família e causa transtornos até mesmo a parentes e amigos, constituindo-se uma espécie de mal social. Evidentemente, no início de tudo, a pessoa não tinha intenção de prejudicar ninguém; no entanto, do ponto de vista do resultado, a situação se torna um problema que não pode ser ignorado.

Assim sendo, é preciso examinar com profundidade o motivo do insucesso, que normalmente se encontra em um ponto que passa despercebido. Ou seja, ao conceber um plano, inicialmente a pessoa prepara-o cuidadosamente para que nada falhe. Pelo menos ela imagina assim, mas, quando se entrega à execução da obra, infelizmente as coisas não correm como esperava. Inesperadamente, começam a surgir dificuldades e obstáculos, a pessoa fica perdida sem saber como agir e acaba perdendo o rumo. Esta é a trajetória habitual dos que não têm sucesso. Vejamos, agora, onde se encontra a razão do fracasso.

Resumindo em uma frase, podemos dizer que o motivo se deve ao menosprezo do factor tempo. O tempo é um factor absoluto em tudo o que se relaciona ao ser humano. Por exemplo, as flores, os frutos, os produtos agrícolas, tudo tem seu momento. Mesmo que as demais condições sejam favoráveis, é a própria Verdade. Por essa razão, o homem deve ter sempre a Grande Natureza como referência em todas as suas realizações. Aprender com ela é a condição suprema para não fracassar.

A terapia espiritual (69), o cultivo de produtos agrícolas sem o uso de fertilizantes (70) e outros métodos que eu preconizo praticamente não fracassam e geram bons resultados porque os mesmos respeitam a Grande Natureza.

Assim sendo, jamais me precipito com relação a um planejamento. Analiso de maneira objectiva e exaustiva todos os ângulos possíveis e, após uma madura reflexão, certifico-me de que o projeto é correcto, útil à humanidade e duradouro em todos os aspectos. Depois disso, faço os preparativos necessários e aguardo o tempo certo para sua execução. Sucede-se que a maioria das pessoas não têm paciência para esperar o momento propício. Como se lançam à obra prematuramente, surge o desequilíbrio entre o projeto e o tempo, e o andamento não evolui conforme o desejado. Desse modo, a pessoa se precipita, aumentando ainda mais o descompasso e aí sobrevém o fracasso – as coisas acabam seguindo essa ordem. Portanto, o essencial é ter paciência para aguardar a chegada do tempo certo. Todas as coisas possuem seu melhor momento. São totalmente procedentes os velhos provérbios: “Quem espera, sempre alcança”, “Se esperarmos, teremos bom tempo para navegar” e “Mire e acerte o alvo.”

Outrora, muitas pessoas se impacientaram com a minha maneira de agir. Houve também as que me apresentaram sugestões e manifestaram suas aspirações. Como eu demorasse a executá-las, elas se impacientavam ou se questionavam. Quanto a mim, estava tão somente à espera da chegada do tempo adequado para iniciá-las. As conhecidas falas, “Aproveite os bons ventos”, “Espere a chance, mas não a deixe passar” e “Aproveite o momento oportuno”, confirmam muito bem essa lógica.

Então, como podemos concluir que se trata do momento propício? Primeiramente, já com todas as condições preenchidas, as circunstâncias nos impulsionam a colocar o plano em execução. Sendo este o momento em que o tempo se encontra suficientemente amadurecido, ao iniciarmos a concretização do plano, tudo se processará, com facilidade, sem se forçar a situação. Assim sendo, pouparemos esforços e tudo correrá suave e naturalmente. Em suma, devemos agir sempre após cuidadosa ponderação. Por exemplo: caso haja um obstáculo na frente de uma pedra pesada que desejamos empurrar ladeira abaixo, necessitaremos de muita força. Se soubermos esperar pacientemente, o obstáculo cederá pelo peso da própria pedra. Com o tempo, ela rolará até com o empurrão de um dedo.

“Se o rouxinol não canta, esperarei até que ele cante”. Este poema é alusivo ao caráter de Ieyasu Tokugawa (71), fundador de uma dinastia que perdurou trezentos anos, o qual sabia dar tempo ao tempo.

Creio que com o que eu disse puderam compreender o quanto é importante o tempo certo. Conforme consta no Ofudessaki (72): “Com o Tempo, nem Deus pode.” Realmente, trata-se de uma sucinta, porém, extraordinária afirmação.

Jornal Hikari no 14, 25 de junho de 1949

Vol. 4 pág. 129

69 Na época em que este Ensinamento foi escrito, o Johrei era chamado de terapia espiritual.

70 Nessa época, a Agricultura Natural era referida simplesmente como agricultura sem uso de fertilizantes.

71 Ieyasu Tokugawa (1543–1616): fundador e primeiro xógum do Xogunato Tokugawa, dinastia que durou de 1600 a 1868.

72 Ofudessaki: livro sagrado de revelações divinas da religião Oomoto.

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