Não Julgueis

Há fiéis que tecem críticas, dizendo que fulano é bom ou mau ou que nos causa transtornos. Se, mesmo em número reduzido, ainda existem fiéis que agem dessa forma, significa que os meus Ensinamentos ainda não foram devidamente assimilados.

Como tenho dito repetidas vezes, o fato de alguém julgar o próximo, qualificando-o como bom ou mau, significa que está profanando a posição de Deus, e isto é um erro gravíssimo. Portanto, gostaria que se prestasse muita atenção a esse assunto porque o ser humano é incapaz de discernir o bem ou o mal do próximo. Quem pensa consegui-lo é porque, sem perceber, atingiu o auge da vaidade. Isto é uma prova de que, na verdade, essa pessoa ainda nem adentrou o portão da fé.

A Obra Divina não é tão superficial a ponto de ser compreendida pelo raciocínio humano. É preciso que as pessoas se conscientizem bem deste ponto. Seja como for, por ser uma Obra Divina realmente grandiosa, inédita desde a antiguidade, que visa salvar os três mil mundos, se o ser humano não tiver um pensamento realmente amplo, não será capaz de perceber o quão magnífica ela é. Ou seja, querer ver por meio da visão shojo, é o mesmo que tentar espiar o céu através de uma fresta do telhado da casa.

Já me cansei de dizer que a fé não pode ser shojo e que somente por intermédio da fé daijo é possível conhecer a Vontade Divina. Não sei mais o que fazer, pois parece que as pessoas têm dificuldade de entender e, do mesmo modo, há aquelas que continuam errando.

Ao observarmos a sociedade em geral, notaremos que, em todos os seus sectores, há o predomínio do aspecto shojo, e isto parece ser muito mais evidente no Japão.

Até mesmo as organizações religiosas criam internamente grupos que lutam pelo poder, e essa má conduta tem repercutido nos jornais. Da mesma forma, os partidos políticos, as repartições públicas e as empresas não fogem à regra. Essa situação, evidentemente, causa prejuízos à eficiência e ao progresso dos empreendimentos. Aliás, por ser um mundo tão equivocado, Deus irá reconstruí-lo. Examinando as causas, podemos afirmar que, sem excepção, as más condutas decorrem da atitude shojo.

Por conseguinte, se o mundo não estiver fundamentado na atitude daijo, certamente não será possível concretizar uma sociedade justa e magnânima. No entanto, apesar de serem fiéis da nossa Igreja, se houver entre eles pessoas que ainda possuem resquícios do pensamento shojo, gostaria que tomassem consciência disso o quanto antes e mudassem seu pensamento para que possam tornar-se autênticos messiânicos. Caso contrário, à medida que a purificação se intensificar, visto que gradativamente o julgamento de Deus se tornará mais severo, no momento decisivo, mesmo que sintam remorso, será tarde demais. Assim sendo, se for o caso de se arrepender e se modificar, aconselho que o façam agora, antes que seja demasiadamente tarde.

Estou de pleno acordo com o ensinamento que a Oomoto apresenta reiteradamente: “A vaidade e a compreensão errada são as causas de grandes sofrimentos.” O mesmo pode ser entendido das palavras de Jesus Cristo: “Não julgueis.”

Em suma, ao invés de julgar o bem ou o mal do próximo, devemos julgar o nosso bem e mal. O correcto é manter-nos neutros em relação aos atos do próximo.

O que me deixa ainda mais surpreso é o fato de existirem pessoas que pensam: “Fulano está agindo de forma inconveniente; porém, não sei se Meishu-Sama não está percebendo.” Ou então: “Como ele é uma pessoa misericordiosa, deve estar fazendo vistas grossas.” Ou ainda: “Como é difícil falar sobre isso, ele está evitando interferir. Sendo assim, nós é que devemos, no lugar dele, advertir aquele fulano.” A meu ver, isto é um grave equívoco e deixa a situação ainda mais desagradável. Isto porque, essas atitudes me fazem pensar: “Será que as pessoas acham que sou tão ingénuo assim? Pensem bem. Se eu fosse realmente tão ingénuo, não teria condições de realizar o grandioso trabalho de salvação da humanidade e, tampouco, de lutar e vencer o chefe dos demónios. Na minha opinião, essas pessoas que se mostram tão ‘boazinhas’ é que são ingénuas. Aliás, mais do que isso: são verdadeiramente ‘imaturas’”. Conforme já disse, esta é, de fato, a ingenuidade de subestimar quem não é ingénuo.

Como os nossos fiéis já sabem, atualmente, não há quem não possua toxinas, e essa situação ocorre também no corpo espiritual. Também não existe ninguém sem falhas. É por isso que Deus nos concede a salvação por meio da purificação. É tal qual a famosa frase: “Quando penso sobre o outro: ‘que tolo ele é’. Na verdade, estou me referindo à minha pessoa. E também quando penso: ‘que ingénuo ele é’, trata-se de mim mesmo.”

Aproveitando a oportunidade, vou falar a respeito de mais uma coisa. Eu consigo saber perfeitamente, e somente o necessário, o que qualquer pessoa sente. Só que, como não conto isso às pessoas, estas ficam preocupadas e acham que não estou sabendo o que está se passando. Na verdade, estou ciente de tudo, só que calado, e deixo nas mãos de Deus. Procedo dessa maneira, porque Deus retira as pessoas que não têm mais jeito. Ou então, em caso de pessoas más, Ele resolve a questão, tirando-lhes até mesmo a vida. Isso já ocorreu com algumas pessoas e, por esse motivo, creio que os fiéis mais antigos estejam cientes disso. Conforme já disse, deixo tudo nas mãos de Deus. Já que me mantenho sem preocupações, meu sentimento assemelha-se à suave brisa da primavera. Do meu ponto de vista, posso dizer que a maioria das pessoas são ingénuas. Mesmo os heróis em âmbito mundial ou os dignitários do Japão são pobres coitados que me parecem crianças inocentes. Entre todas, as pessoas perversas são as mais ignorantes. Isso é interessante, pois a fundadora Sayo Kitamura, da religião Odoru Shukyo(55), só de ver a fisionomia da pessoa era capaz de chamá-la de verme. A sua maneira de se expressar é rude, mas acredito ser uma verdade. Vou encerrar minha explanação, pois acabei me desviando muito do assunto propriamente dito.

Jornal Eiko no 208, 13 de maio de 1953

Alicerce do Paraíso vol. 4 pág. 104

54 Três Mil Mundos: expressão budista que se refere a todos os mundos contidos no Universo.
55 Odoru Shukyo: denominação popular da religião Tensho Kotai Jingu-kyo, uma das novas religiões, fundada em 1945. Sua prática doutrinária objectiva alcançar o estado da impessoalidade pela eliminação do apego e do egoísmo por meio de uma dança hipnótica.

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