Comparada à cultura primitiva de milhares de anos atrás, a actual alcançou e continua atingindo um progresso assombroso. Todavia, a humanidade sofreu e lutou muito para chegar até aqui. A História mostra-nos as árduas batalhas que vêm sendo travadas contra as catástrofes naturais, guerras, doenças e outros males.
É desnecessário dizer que, por trás do objetivo de atingir o progresso, havia o desejo da humanidade de alcançar um mundo de eterna paz em que todos possam viver felizes. No entanto, para a concretização desse ideal, o ser humano acreditou que bastava simplesmente promover o progresso da cultura material e considerou a ciência materialista como o único meio para isso, não dando atenção a mais nada. Sempre que havia novas descobertas ou invenções, a humanidade as aplaudia, julgando-as maravilhosas, crente de que, por meio delas, seu bem-estar aumentaria e, passo a passo, aquele ideal estaria mais próximo. Todos nós sabemos que foi assim que ela veio perseguindo o sonho de alcançar a felicidade.
Dessa forma, com o progresso da ciência, chegou-se à descoberta da desintegração nuclear. Isso deveria ser digno de comemoração; mas, ao contrário do que se esperava, foi uma descoberta aterradora.
Aspectos positivos e negativos da energia atómica
O caminho que percorríamos, acreditando que nos conduziria ao Paraíso, na verdade, para surpresa de todos, era o caminho para o Inferno. Criou-se um artefacto que, num instante, pode ceifar a vida de centenas de milhares de pessoas. Talvez a História ainda não tenha registrado nenhum acontecimento tão contrário à expectativa dos seres humanos.
Uma vez que a humanidade ou, mais especificamente, os povos civilizados criaram a terrível bomba atómica, surgiu, então, o grande problema de precisarmos fugir, a todo custo, da ameaça que paira sobre nós. É realmente paradoxal. Contudo, pensando bem, trata-se de uma criação que, em si mesma, nada tem de temível; pelo contrário, é uma maravilha que vem contribuir para a felicidade do ser humano. Ela é apavorante porque pode ser empregada como instrumento de guerra, mas, se for utilizada para a paz, será realmente uma grande descoberta para a humanidade. Seu emprego na guerra está baseado no mal, ao passo que sua utilização para a paz está fundamentada no bem. Logo, tal invenção pode tornar-se tanto um instrumento benéfico como maléfico. Nesse sentido, se a pessoa que o manipula estiver do lado do bem, não haverá nenhum problema.
Evidentemente, o caso não é tão simples assim. Em termos concretos, é preciso transformar o mal em bem. Torna-se desnecessário dizer que esta é a nobre missão da religião.
6 de Setembro de 1950
Alicerce do Paraíso vol. 1