Em se tratando de estudo, existe o estudo vivo e o estudo morto. Isso soa estranho, mas vou esclarecer o que isso significa. Estudar por estudar é estudo morto, enquanto que estudar para aplicar na vida real é estudo vivo. O estudo pela busca da Verdade, porém, é algo à parte e muito valioso. Vejamos, em primeiro lugar, o que é estudo.

Actualmente, em todos os níveis da educação escolar, os professores utilizam os livros didáticos como dimensão vertical, e a prática, como dimensão horizontal. Esse método de ensino assumiu a configuração actual a partir do resultado de grandes esforços e contínuos melhoramentos realizados por muitos eruditos. Logicamente, novas descobertas e teorias surgiram e desapareceram, foram apresentadas e depois descartadas, preservando-se apenas o que havia de valor nelas. Aquilo que, em outra época, era considerado Verdade e respeitado como regra de ouro, foi desaparecendo sem deixar nenhum vestígio, à medida que apareciam novas teorias e descobertas que o superavam. Existem, contudo, aquelas que se mantêm vivas e continuam sendo úteis à sociedade. Tudo é definido pelo tempo.

Por esse motivo, embora tenhamos plena certeza de que hoje uma teoria seja absolutamente verdadeira, inalterável e eterna, não podemos saber quando aparecerá outra que a suplante nem quem o fará. No entanto, quando aparecem novas descobertas, é natural que elas não se encaixem nos moldes das teorias tradicionais; quanto menos se ajustarem, maior será seu valor. Resumindo, é uma quebra de paradigmas, e quanto maior for esse impacto, maior será o seu valor. Desse modo, se aquilo que pensávamos ser Verdade cair no esquecimento, é porque surgiu outra Verdade superior àquela. É dessa forma que se processa o contínuo desenvolvimento da cultura.

Analisemos mais profundamente. Através dos anos, o ensino tradicional se estruturou até atingir o que, em tese, seria uma forma organizada. Contudo, o rápido avanço da cultura se distancia dessa forma estática com uma velocidade surpreendente. Um dia desses, ouvi do presidente de uma grande empresa o seguinte comentário: “Mesmo que seja muito inteligente, alguém que concluiu a universidade há mais de dez anos, hoje, muitas vezes, não consegue lidar com questões práticas. Isso ocorre devido à grande disparidade entre o conhecimento adquirido naquela época e o momento atual, ou seja, há uma defasagem entre o estudo e o tempo. Isso se dá principalmente entre os técnicos.” Essas palavras vêm ao encontro daquilo que eu explanava, porque, como as teorias têm como base a época em que foram criadas, ao longo do tempo, se não acompanharem o progresso da cultura, desaparecerão. Exemplifiquemos.

Dizem que os políticos actuais se tornaram medíocres, o que significa dizer que é difícil encontrar líderes de grande envergadura. Todo mundo sabe que os atuais ministros de Estado têm capacidade limitada e se mostram ocupadíssimos em resolver os problemas do momento; mas suas verdadeiras intenções são evidentes. Isso ocorre porque, na atualidade, os políticos de nível ministerial são formados pelas universidades federais e deixam-se levar facilmente pelas velhas teorias. Racionais em tudo, eles não sabem que existe algo além da razão. É o mesmo que utilizar carroça numa época em que existem carros, pois só aprenderam a conduzir aquela e não sabem dirigir carros.

No geral, o estudo desenvolve a inteligência humana, formando, até certo ponto, uma base, que corresponde ao alicerce de uma construção. É sobre esse alicerce que se ergue uma nova construção, isto é, coloca-se em prática o estudo, este é aprimorado e promove inovações. Assim, dá-se uma sintonia do estudo com o contínuo progresso da cultura. E mais: ele vai além e cumpre o papel de liderança. Isso, sim, é o estudo vivo. Recentemente, soube que o presidente Truman(3), dos Estados Unidos, por volta de 1921, era um comerciante de miudezas. Creio que foi essa experiência de vida que o levou até onde ele chegou hoje.

Há mais de dez anos, proclamei uma nova teoria sobre a medicina; porém, tão logo eu a publiquei em livro(4), sua venda foi proibida pelas autoridades. Isso se deu por três vezes, e como eu não pude fazer nada contra, desisti. O motivo é que minha tese é contrária aos conhecimentos da medicina atual. Comparando a proporção dos resultados obtidos pelo meu método com a da medicina atual, vemos que o meu é dezenas de vezes mais eficaz. Além disso, não se trata de cura temporária, mas definitiva. O que estou dizendo constitui a pura verdade, sem o mínimo exagero. No prefácio do livro, eu até escrevi: “Estou pronto para comprová-lo a qualquer hora.” Todavia, uma vez que as autoridades e os especialistas não deram a mínima atenção, nada mais pude fazer.

O objectivo da medicina é curar todas as doenças e promover a saúde do ser humano, prolongando-lhe a vida. Que objetivo poderia ter além deste? Por mais que se preguem teorias, por mais que se aperfeiçoem as instalações e que haja aparelhagens super-sofisticadas, tudo isso será inútil se não corresponder ao referido objetivo. Baseados apenas na divergência entre a minha teoria e a da medicina convencional, as autoridades e os especialistas ignoraram a minha, sem ao menos tentar examiná-la, revelando-se, portanto, verdadeiros traidores do progresso da cultura. Como os governantes depositam absoluta confiança nessa medicina, só posso dizer que o homem contemporâneo não passa de uma pobre ovelha indefesa.

Por que eu teria apresentado uma teoria tão ousada? Ora, se eu não tivesse absoluta convicção, jamais a teria divulgado. Descobri uma grave falha na medicina, que tanto se orgulha do seu progresso. Entre as grandes descobertas efetuadas até o presente, nenhuma se compara à que eu fiz, porque não existe nada tão importante quanto a solução dos problemas relacionados à vida humana. Enquanto a medicina atual não despertar para essa grave falha, afirmo que ela não será uma existência útil de facto.

Qualquer um percebe que, ao nosso redor, está aumentando o número de criaturas sofredoras, acometidas de doenças graves causadas pelos tratamentos erróneos. Diante disso, não conseguimos ficar indiferentes. No momento, porém, não me resta outra coisa senão orar a Deus para que as pessoas despertem o quanto antes.

30 de janeiro de 1950

Alicerce do Paraíso vol. 1

 

(1) Título anterior: “Inadequação do estudo”.

(2) Vertical e horizontal: são dois conceitos de Meishu-Sama muito semelhantes ao Yin e Yang. Vertical é estreito, profundo, mental, espiritual, oriental etc. Horizontal é largo, superficial, físico, material, ocidental etc.

(3) Harry S. Truman (1884-1972), trigésimo terceiro presidente dos Estados Unidos, cujo mandato foi de 1945 a 1953.

(4) Refere-se ao livro A medicina do futuro publicado três vezes: em 28/9/1942, 5/2/1943 e 5/10/1943.

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