“Homem forte é aquele que…”

“Homem forte é aquele que, esquecendo-se

de si mesmo, percorre o caminho correto.”

Mediante observação cuidadosa, constatei que o homem de nossos dias é destituído de ódio ao Mal. São poucos os que ficam indignados quando sabem que um inocente está nas garras de um perverso.

Imagino que muitas pessoas, ao lerem o que escrevi acima, refletirão assim: “Que adianta rebelar-me contra o Mal que atinge os outros? Não fere meus interesses! É bobagem atormentar-me com tais fatos… Bastam-me as minhas preocupações! A vida já é tão cheia de problemas e sofrimentos, que o melhor é disfarçar e fingir que não vejo certas coisas”. Ora, quem pensa assim geralmente é considerado hábil e dotado de experiência. A seu respeito, costuma-se dizer: “É um sujeito vivido!” Esse tipo, pretensamente experiente, é tido como padrão, sendo respeitado e imitado por muita gente.

Na Política, que sempre funciona muito mal, o descalabro é evidente. A maioria dos políticos e funcionários públicos é corrupta. Ex-dirigentes de sociedades são denunciados por escândalos de suborno e prevaricação. A onda de crimes avoluma-se dia a dia. Segundo a opinião geral, urge dar fim à delinquência juvenil, evitando-se, dessa forma, um negro futuro para o Japão e para o mundo.

Essas observações que fiz cuidadosamente demonstram que o Mal não é odiado.

Os funcionários públicos conservam o autoritarismo feudal. Esfriam-se as relações entre os familiares e aumenta a crise entre educadores e educandos, por ter-se abraçado a democracia de maneira deturpada. A bela capa da democracia oculta a exploração dos impostos e o sofrimento do povo sob a opressão do poder burocrático. O número de problemas desagradáveis é tal que se torna difícil relacioná-los.

A causa de tudo isto é uma generalizada despreocupação quanto ao sentido de justiça, acrescida do egoísmo de muitas criaturas, erroneamente consideradas “experientes”. Todavia, examinando os fatos, vemos que a sociedade atual não poderia possuir outras características. Chega a ser lógico.

Em todas as épocas, os jovens possuem vigoroso senso de justiça e ódio ao Mal. Ao deixarem os bancos escolares, no entanto, enfrentam uma realidade tão inesperada que golpeia todas as suas convicções, dissolve seus velhos ideais e exige e reformulação de seus valores, para que eles adquiram a chamada “experiência da vida”. Qualquer manifestação do espírito de justiça cria mal- entendidos, suscita antipatia de superiores hierárquicos e dificulta- lhes o sucesso na profissão. Qualquer intenção de justiça é considerada como pedantismo ou inexperiência. A essa altura, o sentimento de justiça é posto de lado, num canto do coração, sendo substituído pelo “senso prático”. Considera-se, então, que o jovem se aprimorou na arte de viver em sociedade.

Não digo que isto seja propriamente mau; contudo, o aumento de pessoas acomodadas afrouxa a estrutura da sociedade e facilita o aparecimento de corruptos e criminosos. A nossa realidade social torna patente o que acabo de afirmar.

Para definir o valor de um homem, julgo importante verificar a sua dosagem de ódio ao Mal. Quanto maior ojeriza tiver pelo Mal, mais firme é a pessoa, mais sólido é o seu caráter. Mas não me refiro ao ódio simplista, que geralmente traz complicações. Os jovens costumam exaltar-se facilmente, importunar o próximo, ameaçar a ordem social e causar uma sensação de desconforto à sua volta. Para evitar esse ódio nocivo, precisam do apoio da Inteligência Suprema. Quem abomina profundamente o Mal deve amadurecer seu pensamento, evitar atos impulsivos, dar bons exemplos à sociedade, praticando tudo que é bom e justo, virtuoso e útil.

Gostaria de contar a minha experiência sobre esse assunto.

Desde menino, desenvolvi um forte sentimento de justiça. Tinha um ódio profundo pelas desigualdades que há no mundo e muito lutei para reprimir o furor que me dominava quando sabia de alguma injustiça ou desonestidade. Esse autodomínio é difícil e doloroso, mas será facilitado se o encararmos como um treinamento Divino que nos aprimora espiritualmente. Sob esse aspecto, vemos que tal controle minora o sofrimento e lapida a alma.

Eis uma característica que conservo até hoje: continuo tendo horror pelo Mal. Porém aceito os fatos, buscando ser tolerante, tomando tudo como provação. A boa norma de conduta determina o ódio ao Mal, mas também prudência nas ocasiões em que ele se manifeste. Melhor dizendo, temos de ter cuidado para que esse sentimento não se mostre exagerado nem prejudique o próximo; que ele não fira o bom senso, não falte aos preceitos do amor e da harmonia. É um ódio útil, que nos permite caminhar com um sentimento semelhante ao de Deus.

Alicerce do Paraíso – “Ódio ao Mal” (25/02/51)

O Pão Nosso de Cada Dia pág. 273

 

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