O Século XXI – 1ª Parte

Acordei às seis horas da manhã, ao som de uma música bem baixinha, que parecia sair do travesseiro. Ela foi ficando cada vez mais alta, e, como eu não conseguia dormir, levantei-me. “Que interessante! Um despertador inserido no travesseiro!” – pensei. Lavei o rosto e tomei a refeição matinal, uma mescla de pratos japoneses e ocidentais: sopa de missó, pão de arroz, um pouco de peixe e carne, verdura, café, chá verde etc. Em seguida, fui ler o jornal e vi algo muito interessante. Na primeira página, havia, em destaque, um artigo sobre a campanha eleitoral do Presidente Mundial. O dia da eleição estava próximo.

Publicavam-se os nomes e as fotos dos candidatos de diversos países: Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Japão, União Soviética (cujo nome era outro) e países da Indochina e da América do Sul. Estava escrito que, ao que tudo indica, o candidato dos Estados Unidos ficaria em primeiro lugar.

Na página três, deparei com algo inesperado: quase não existiam matérias sobre crimes. Dava-se grande destaque às diversões: uma profusão de artigos versava sobre esportes, turismo, música, belas-artes, teatro, cinema e outras artes. A edição estava muito bem elaborada. Os artigos não eram prolixos, nem entediantes, como se dava nos jornais do passado, mas redigidos numa linguagem clara e concisa, restringindo-se ao necessário. Assim, gastava-se pouco tempo na leitura; percebia-se que havia cuidado para não cansar o leitor.

Outra nota diferente em relação aos tempos antigos, era a quantidade de fotos: cinquenta por cento de artigos e cinquenta por cento de fotos. A página de anúncios e classificados também era muito diferente. Não havia nenhuma propaganda de remédios, e a de cosméticos era mínima. O que havia em abundância era propaganda de livros e artigos relacionados às vestimentas, alimentação, moradia, maquinaria, lançamentos de novas invenções etc. Da mesma forma, a parte escrita apresentava-se reduzida e com muitas fotos.

Por essa razão, eu li todo o jornal em aproximadamente quinze minutos. Terminei a leitura agradavelmente. E não era para menos, pois a janela era ampla e a sala estava bem clara. Não havia nenhuma instalação de segurança: explicaram-me que assaltantes e ladrões eram histórias do passado. Por conseguinte, achei que, de fato, aquele era um mundo maravilhoso.

Peguei o carro e saí. Estava muito bem vestido e fiquei surpreso com a beleza da cidade. Parecia um jardim florido. Engraçado é que, além dos automóveis, não se via nenhum outro tipo de condução, o que não era de se admirar, pois os trens trafegavam pelo subsolo; as ruas eram só para os automóveis. Além disso, estes eram silenciosos.

Achando estranho, olhei bem e notei que a rua parecia estar coberta com cortiça. Observando melhor, percebi tratar-se de um material elástico e bastante macio, que parecia ter sido preparado com uma mistura de borracha e serragem. Não havia como ocorrer poluição sonora, porque, além desse piso especial e dos pneus de borracha, havia dispositivos especiais em volta das janelas e outras partes, para isolamento acústico. Além do mais, se chovia, a água se infiltrava rapidamente no chão e, por conseguinte, não se formavam poças.

A força motora que movimentava os carros era gerada por um minério do tamanho da ponta de um dedo. Algo realmente extraordinário, porque conseguia fazer com que um carro percorresse várias dezenas de milhas. Esse minério assemelhava-se ao urânio e ao plutónio, cuja aplicação se baseava no princípio da desintegração do átomo.

Assim que entrei no carro, percebi que não havia motorista. Nem era preciso, pois bastava o passageiro segurar uma barra com uma das mãos para o carro movimentar-se. É claro, porém, que algumas pessoas se davam o luxo de ter motorista.

Ao ver a cidade, minha primeira impressão foi exclamar como era bela. Fiquei surpreendido ao ver árvores frutíferas enfileiradas entre a rua e a calçada, como ocorria antigamente com a Ginkgo biloba e os plátanos. Havia figueiras, caquizeiros, nespereiras e árvores mais baixas, como laranjeiras, pessegueiros e pereiras.

No meio da rua, existiam canteiros semelhantes aos de outrora, separando as duas mãos do trânsito. Neles se enfileiravam arbustos, cobertas de belas flores enquanto as bordas eram coloridas por todos os tipos de flores e plantas. Enquanto eu passava lentamente por elas, chegava a mim o perfume de uma flor que não consegui identificar. (…)

Extraído de “O século XXI, artigo não publicado, escrito em 1948

Luz do Oriente pág. 47

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