O Mal Social é ou não Causado pelo Ambiente?

Desde a antiguidade, diz-se que “quando a necessidade bate à porta, os princípios e a moral saem pela janela[2]“. Isso significa que, quando o indivíduo passa a não ter mais dificuldades materiais, suas palavras e ações também melhoram. Assim, ao se observar a sociedade atual, verifica-se que ela está realmente repleta de mal social, e um grande número de intelectuais interpreta que a causa reside na carência material. Em parte, isso é verdade, mas esta não é a razão fundamental. Se essa carência for o verdadeiro motivo, as pessoas que possuem bens materiais em abundância deveriam ser honestas.

Contudo, a realidade não nos mostra isso. É incalculável o número de pessoas que, apesar de terem o que comer e vestir, praticam atos ilícitos e, às vezes, chegam a perturbar a sociedade e causar muito mais danos do que os pobres. Vemos aqueles que, usando o poder do dinheiro, apoderam-se de inúmeras propriedades, deixando-as praticamente abandonadas em um período de séria crise habitacional. Por meio do poder financeiro, aproveitam-se de muitas mulheres, perturbando a moral, além de usurparem a liberdade das pessoas mais fracas e menos favorecidas socialmente, impedindo que subam na vida. Corrompem a política e, quando os filhos ingressam na universidade, corrompem os educadores. Enfim, são tantas outras coisas, que chega a ser impossível enumerá-las.

Os factos acima mostram claramente que a causa do aumento dos males sociais não é unicamente a carência material. Conclui-se que a origem do mal social é, conforme afirmamos constantemente, a falta de fé: esta é a verdadeira causa. Por essa razão, enquanto não solucionarmos essa questão, será impossível pensar na erradicação dos males sociais. É exatamente o surgimento de uma religião poderosa que constitui a base de uma solução definitiva.

A seguir, gostaria de apontar o grande erro que existe no pensamento dos intelectuais da atualidade. Qual seria? É a mania de atribuir a terceiros toda a responsabilidade. É provável que tal mentalidade tenha como cerne a influência do marxismo. Segundo a teoria socialista, a causa da infelicidade reside na má organização social. De fato, torna-se necessário melhorar cada vez mais a estrutura e a organização da sociedade, mas é um grande equívoco determinar que esta seja a causa única da infelicidade humana. Mesmo que se consiga estabelecer uma estrutura organizacional ideal, se o modo de pensar e de agir de cada indivíduo estiver errado, ela não poderá ser administrada com eficiência, e o resultado inevitável será a falência do sistema. Portanto, a verdadeira forma de solucionar o problema é melhorar a mentalidade de cada indivíduo, ou seja, considerar o ser humano como elemento principal e a organização social, secundária.

Evidentemente, o pensamento incorreto surgiu do materialismo. Este não reconhece a espiritualidade e tenta solucionar tudo somente por meio da lógica materialista. E esta é a grande causa do erro. Consequentemente, tenta-se provar sempre que as próprias palavras e ações são corretas, e a culpa é atribuída ao outro. Na realidade, a causa de quase todos os males está no indivíduo. Se a pessoa conseguir conscientizar-se claramente disso, tanto a virtude da modéstia quanto o espírito filantrópico surgirão espontaneamente e se concretizará uma sociedade feliz e pacífica. Não há outra forma para tal a não ser por meio da religião, da fé.

O princípio da revolução socialista de destruição da organização social se baseia na transferência das responsabilidades individuais a terceiros e na consequente manipulação do povo. Portanto, desejo que as pessoas se conscientizem plenamente do sentido do que aqui apresentamos e, colocando um ponto final nos erros cometidos até o presente, estabeleçam um brilhante recomeço.

Jornal Hikari nº 10, 25 de Maio de 1949

Alicerce do Paraíso vol. 5

[1] Título anterior: “O mal social é ou não é causado pelo meio ambiente?”.

[2] A expressão em japonês “kosan areba, koshin ari” refere-se a uma máxima do confucionismo: “Quem não tem uma profissão ou fonte de renda estável, não consegue manter os próprios princípios morais com firmeza”. Tal ditado era uma advertência sobre o fato de que, com exceção da nobreza, que tem formação intelectual, o povo em geral não tem como manter sua retidão moral sem uma fonte de renda ou profissão.

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