O Malfeitor é Doente

O título acima suscitará dúvidas entre as pessoas, pois há muitos malfeitores com aparência sã. Aliás, entre estes é até maior o número de indivíduos aparentemente saudáveis. Entretanto, isso se limita à visão superficial; a parte espiritual, ou seja, seu interior, encontra-se verdadeiramente doente. Em outras palavras, as pessoas más são influenciadas por espíritos malignos, que acabam dominando grande parte do seu espírito, ou seja, isolam o espírito protector primordial e afastam o espírito protector guardião. Assim o espírito maligno assume o protagonismo e age a seu bel-prazer, como se fosse a própria pessoa.

Sem dúvida, os referidos espíritos malignos podem ser espíritos de raposa, de texugo, de dragão ou de outros animais. Portanto, seus actos não diferem muito daqueles praticados pelos mesmos. Nessas condições, sem nenhum constrangimento e com toda naturalidade, realizam, com prazer, atos impiedosos e cruéis que uma pessoa jamais faria. A diferença entre eles e o ser humano é tão grande, que não se consegue imaginá-la com base no senso comum.

Conforme tenho ensinado, desde o seu nascimento, o ser humano possui o espírito protector secundário, de natureza animal. Deus permite sua existência por ser indispensável à sobrevivência humana e porque os desejos físicos são necessários.

Entretanto, analisando o malfeitor, constatamos a actuação de dois tipos de espírito animal: podem ser casos de possessão de outro espírito animal ou de demonstração da animalidade do espírito protector secundário, a que já nos referimos. Por que isso se verifica dessa forma? Ao surgirem nuvens no espírito da pessoa e à medida que aquelas vão-se tornando densas, o espírito animal correspondente passa a influenciá-la. Nesse caso, o espírito protector primordial acaba perdendo para o espírito animal, que passa a agir a seu bel-prazer por meio desse corpo.

A pessoa má possui nuvens espirituais, que são a causa do sangue se tornar turvo. Dessa maneira, algum dia, infalivelmente, sobrevirá uma intensa ação purificadora. Nessa ocasião, a pessoa passará pelo sofrimento proporcional à quantidade de máculas e estas serão a causa de eventual desgraça, doença e demais infelicidades. É interessante: ouve-se com frequência que, por pouco que seja, quando um grande criminoso se põe a refletir levado pela piedade, o crime cometido é descoberto logo após e ele acaba sendo detido. Isto se dá por causa da purificação. O ditado: “Enquanto o bandido obtém êxito na prática de seus crimes, ninguém consegue detê-lo; porém, quando chegar o tempo certo, ele certamente receberá o castigo divino”, refere-se a isso. Afinal, quando se acumulam nuvens no espírito, elas são purificadas por meio dos sofrimentos, graças à Lei dos Céus.

Observando-se dessa maneira, do nosso ponto de vista, a causa que leva o ser humano a se tornar mau, encontra-se nas nuvens do seu espírito. Portanto, isso significa que ele é um autêntico doente. Evidentemente, quanto mais perverso for o criminoso, mais rigorosa será a ação purificadora, e o sofrimento também será maior, fazendo com que ele se torne um doente com problemas de saúde muito sérios.

As nuvens espirituais surgem no espírito por falta de força, isto é, por ausência de Luz no espírito protector primordial. Portanto, para livrar-se dessa situação, a pessoa precisa contar com o apoio da religião. Quando ela ingressa na fé e se mantém voltada para Deus, a Luz Divina penetrará em sua alma por intermédio do elo espiritual. Com o aumento dessa luz, as nuvens se reduzirão, e o espírito animal intruso, apavorado, acaba abandonando imediatamente sua vítima. Já o espírito protector secundário, presente desde o início, se retrai e fica impossibilitado de praticar o mal.

Pelo exposto, creio que puderam entender que, quem não reverencia a Deus, a qualquer hora ou momento e por alguma razão, está sujeito ao perigo de se transformar em ser humano mau. Por esse motivo, podemos dizer que os indivíduos sem fé são elementos perigosos. Pela explicação acima, acredito que puderam compreender que, na sociedade actual, o número desses elementos é elevado e, por conseguinte, não se observa uma redução do mal social. Na actualidade, por mais que um ser humano seja bom, ele não o será autenticamente enquanto não abraçar uma fé. Isto porque, ele não passa de uma pessoa boa que possui traços malévolos. Por consequência, em absoluto, podemos nos descuidar ao nos relacionar com pessoas assim. Desde os tempos antigos, dizem que, ao vermos uma pessoa, devemos desconrajar dela, mas isso deve ser uma referência a alguém que não possui fé.

Pelo facto de as pessoas eminentes e de as autoridades da actualidade não compreenderem em absoluto essa simples verdade, negam sumariamente a Religião e procuram exterminar o mal, confiando apenas na lei humana. Assim, poderão compreender o quanto elas estão equivocadas.

Jornal Eiko no 131, 21 de novembro de 1951

Alicerce do Paraíso vol. 5

Título anterior: “O homem mau é enfermo”.

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