No Japão, a liberdade religiosa foi estabelecida após a promulgação da nova constituição e, por essa razão, é desnecessário escrever sobre o assunto. Pretendo discorrer sobre a liberdade no âmbito da própria fé. No mundo inteiro, há inúmeras organizações religiosas – grandes, médias e pequenas –, e como é do conhecimento de todos, cada fiel, sem exceção, considera sua religião superior, e as demais, obviamente, inferiores. Por esse motivo, advertem veementemente para não se ter contato com outras religiões. Dizem que elas são falsas, que o castigo que virá do Deus da sua religião é terrível e que não se poderá obter a salvação seguindo a dois senhores. Há religiões que são muito rígidas nesse aspecto. Existem missionários que tentam intimidar seus fiéis dizendo-lhes, por exemplo, que, se mudarem de fé, sofrerão grandes infortúnios, doenças graves, perda da própria vida ou da família inteira etc. Trata-se exatamente de recursos típicos de falsas religiões.

Obviamente, tomando-se por base o senso comum, tais afirmações são absurdas, mas as pessoas, ao contrário do esperado, acreditam nelas e não conseguem tomar a decisão de abandoná-las. Isso não se restringe às novas religiões; já que mesmo nas antigas e respeitadas, ocorrem, frequentemente, situações semelhantes, o que é incompreensível. Analisando com atenção, veremos que a polémica do livre pensamento não se restringe ao campo político ou social, pois parece que os grilhões do feudalismo persistem também no terreno das religiões. A partir desta realidade, gostaria de falar-lhes sobre a liberdade na religião. Promover vantagens para a entidade religiosa em detrimento dos fiéis, cerceando sua vontade, é um absurdo. Aliás, proferir palavras de intimidação com esse objetivo constitui uma ameaça condenável cometida em nome da fé. Como ilustração, citarei algo que ouvi de uma pessoa: “Há muito tempo sou adepto fervoroso de uma religião, mas estamos sempre doentes sem nos livrar da pobreza. Por esse motivo, fui perdendo a fé e resolvi abandoná-la. Entretanto, o missionário que me atendeu, disse coisas atemorizantes. Sem saber como agir, venho pedir um conselho ao senhor.” Respondi-lhe que aquela religião, sem sombra de dúvida, não era verdadeira e que o melhor seria deixá-la o quanto antes. No entanto, parece que religiões como essa são numerosas na sociedade.

Qual seria a razão dessas palavras de intimidação? Naturalmente, pode tratar-se de um recurso extremo para evitar a diminuição do número de fiéis. Há, ainda, outro motivo. Desde eras remotas, quando uma religião se sobressai, observa-se a tendência para o aparecimento de imitações. Eventualmente, isso ocorre até mesmo com a nossa Igreja. Então, eu explico que a situação é semelhante à dos cosméticos: quando são bem aceitos, surgem falsificações. Ora, se isto ocorre, é uma prova de ter sido bem recebida pelas pessoas e, achando graça, digo que não há qualquer problema. Parece que fato semelhante tem se passado no cristianismo, mas de forma diferente. Trata-se da advertência sobre a vinda do anti-cristo, do falso salvador , algo que pode ser tanto positivo como negativo. Isso porque, mesmo que surja o verdadeiro Salvador, poderá ser tomado como falso, e as pessoas deixarão de ser salvas. O mais problemático é o grande número de pessoas que professam a fé de forma intensa, convencidas de que sua religião é superior às demais. Uma vez que de fato acreditam nisso, apenas elas próprias se contentam com sua salvação espiritual, mas essa salvação não é verdadeira. Isso porque, se elas não se salvarem também materialmente e não se tornarem pessoas que levam, material e espiritualmente, uma vida paradisíaca, não obterão a verdadeira felicidade. No entanto, percebe-se que são muitos os indivíduos que professam uma fé cega e desconhecem essa realidade. Por conseguinte, mesmo sendo ativos na fé, a maioria deles não consegue libertar-se da infelicidade.

A propósito, quero fazer mais uma advertência. O motivo pelo qual uma religião proíbe seus fiéis de terem contato com outras talvez se deva ao receio de que eles encontrem uma religião superior à sua e isso significa que existem fragilidades nessa religião; logo, é necessário muita cautela.

Sinto-me constrangido por parecer auto-elogio mas, nesse ponto, a religião messiânica é, de fato, livre. Como nossos fiéis bem sabem, digo sempre que tenham bastante contato com quaisquer outras religiões. Naturalmente, é bom pesquisá-las, pois suas experiências se ampliarão proporcionalmente. Nessas circunstâncias, se encontrarem algo superior à religião messiânica, não há problemas em mudar de religião a qualquer momento, e isso jamais constituirá um pecado. Para o verdadeiro Deus, basta que a pessoa se salve e se torne feliz.

Jornal Eiko no 177, 8 de outubro de 1952

“Alicerce do Paraíso” vol.4 pág.22

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