Frequentemente, encontramos adeptos que, movidos pelo ardor da fé́, criticam o responsável e os diretores da Igreja à qual pertencem, dizem que seus procedimentos não são bons, sugerem reformas na instituição, entre outros comentários. Quando suas ideias não são aceitas, por vezes ficam muito aflitos e impacientes. Por essa razão, desejo expor sobre o assunto.
Uma vez que esse tipo de pensamento é motivado pelo makoto desses fiéis, não diria que seja algo ruim, mas há́ um ponto que deve ser levado em consideração. Trata-se de um pensamento próprio da fé́ shojo(51). Como tenho dito sempre, nossa religião caracteriza-se pela fé́ daijo(52) e, por esse motivo, seu pensamento difere bastante da visão comum. Enquanto não reconhecerem isso, significa que não estarão de acordo com a Vontade de Deus. Na realidade, o fato de julgar se uma pessoa é boa ou má, já constitui vaidade, uma vez que somente Deus consegue distinguir o bem ou o mal do ser humano. Já escrevi a respeito disso e aconselho que ajam com muita ponderação. Se a pessoa estiver errada ou for má, Deus tratará de julgá-la, sendo desnecessária qualquer preocupação. Por conseguinte, creio que o fato de o ser humano se preocupar e sofrer sem necessidade significa que ele não acredita na força de Deus. Como prova do que digo, há vários casos de pessoas que, devido a um equívoco em sua fé, foram julgadas por Deus e algumas chegaram até mesmo a perder a vida. Os fiéis antigos já vivenciaram inúmeras experiências dessa natureza. Logo, antes de julgar o bem ou o mal do próximo, devem observar o bem e o mal, existentes no próprio interior.
Sei perfeitamente que as pessoas que ingressam na nossa religião possuem makoto e, portanto, não faz sentido que tenham um sentimento ruim. Em relação ao makoto, existe o amplo e o restrito e, por essa razão, precisamos ficar atentos. Tenho dito sempre que o bem de shojo é o mal de daijo. Mesmo em se tratando do bem, se o makoto estiver baseado no pensamento shojo, o resultado será́ negativo.
Nossa religião se propõe a realizar uma grandiosa obra de salvação da humanidade, inédita desde a criação do mundo. Por conseguinte, devemos confiar os assuntos internos da Igreja a Deus, tendo sempre em mente a sociedade, ou melhor, o mundo. Em suma, a visão deve estar voltada sempre para fora e não para dentro da religião. Gostaria de dizer, ainda, que uma vez que o Plano Divino é extremamente profundo, obviamente não há́ como compreendê-lo por meio da visão e do intelecto humanos. Há́ o seguinte ensinamento da Oomoto(53): “No cerne de Deus, ainda há́ profundidade. Como há́ o profundo do profundo no Seu Plano, as pessoas não conseguem compreendê-lo. Quem pensa não compreender as coisas do Mundo Divino, é porque de fato as compreendeu.” Outro ensinamento adverte: “Seria possível reconstruir os três mil mundos(54) por meio de um plano tão superficial, capaz de ser compreendido pelo ser humano?” Acho que essas são palavras realmente simples e que expressam bem tudo isso.
Jornal Eiko no 121, 12 de setembro de 1951
Alicerce do Paraíso vol. 4 pág. 102
50 Vaidade: a palavra manshin, que foi usada por Meishu-Sama, além de vaidade, tem a conotação de arrogância, presunção e orgulho.
51 Shojo: refere-se à religião de caráter fundamentalista, de preceitos rigorosos, que preza pelo bem-estar do indivíduo e não da sociedade.
52 Daijo: diz respeito à religião de caráter liberal, abrangente, que preza pelo bem-estar da coletividade acima do bem-estar individual ou de apenas um grupo.
53 Oomoto: religião japonesa fundada por Nao Deguchi (1836–1918) em 1892.