Conforme já escrevi anteriormente, uma vez que o ser humano nasceu para construir o mundo ideal – objectivo de Deus –, se ele estiver em consonância com esse propósito, sempre poderá trabalhar com alegria e sem doenças. Eis a Verdade eterna. No entanto, é inevitável que ele acabe adoecendo devido às toxinas medicamentosas herdadas de seus antepassados e, por desconhecer o que é certo, também introduz essas toxinas no corpo após o nascimento.
Contudo, se pessoas úteis à Obra Divina não puderem trabalhar devido a doenças, isso acarretará um prejuízo para Deus. Por esse motivo, é natural que Ele deseje curá-las rapidamente e, logo, não precisamos nos preocupar com o assunto. No entanto, as pessoas que desconhecem esse fato, utilizam a toxina denominada medicamento para conter as doenças. E, uma vez que isso está totalmente em desacordo com a Verdade, não há como obter a cura desejada.
Não apenas a doença como também os demais infortúnios são ações purificadoras que, de acordo com a causa, ocorrem evidentemente sob diferentes formas. Por exemplo, os pecados cometidos no âmbito financeiro ou material, tais como furtar, apropriar-se indevidamente de recursos, causar prejuízos ao próximo, viver luxuosamente além de suas possibilidades etc. serão redimidos com prejuízos financeiros e materiais. Frequentemente ouvimos falar a respeito do filho esbanjador, que gasta a fortuna da família. Ele está resgatando os pecados praticados por seus pais e antepassados. Estes, desejando preservar a linhagem familiar da extinção, escolhem um descendente para que, por seu intermédio, as purificações necessárias se processem e, assim, a família prospere cada vez mais. Nestas circunstâncias, não há conselho que surta efeito.
Suponhamos dois irmãos com índoles diferentes: um é rebelde e esbanjador, e o outro é honesto e íntegro. Aparentemente, o primeiro é mau e desonra os antepassados. Todavia, ao analisarmos com visão ampla, é o oposto, pois na questão de eliminação dos pecados e impurezas[1] dos antepassados, sua missão assume maior importância. Por essa razão, não é possível determinar o bem e o mal, com base nos critérios humanos.
Todo pecado de natureza material é purificado por meios materiais, por exemplo: sofrer incêndios e roubos, ser vítima de fraudes, ter prejuízos com especulações financeiras e com apostas em jogos de azar, fracassar nos negócios, gastar com doenças etc. Embora possamos nos esquivar das leis humanas, o mesmo não ocorre com as Leis Divinas, por serem absolutas. Toda ação purificadora ocorre em conformidade com o princípio da correspondência(3).
Também existem os sofrimentos após o ingresso na fé. E, quanto mais fervorosa a pessoa se tornar, mais intensos eles serão.
Nessas circunstâncias, os novatos na fé podem vacilar, mas este é um momento crucial. A razão é que Deus deseja, o quanto antes, agraciá-los pelo seu fervor. Contudo, uma vez que eles possuem impurezas espirituais que precisam ser purificadas, ocorre uma ação semelhante à limpeza de um recipiente(4). Nesse caso, se eles suportarem sem vacilar, ao término desta, receberão inesperadas e magníficas graças.
Vou falar da minha experiência sobre o assunto. Durante vinte anos, fui atormentado pelas dívidas e, por mais que tivesse pressa em saldá-las, não o conseguia e, por fim, me conformei. Finalmente, consegui liquidá-las em 1941. Realmente, foi um grande alívio! Depois disso, no ano seguinte, começaram a chegar somas inesperadas e, mais uma vez, senti-me maravilhado com a profundidade da Vontade Divina.
Ouvimos frequentemente: “Fulano ficou rico após o incêndio”. Isso significa que a sorte melhorou com o fim da acção purificadora. Podemos dizer o mesmo em relação ao incêndio de Atami(5). Se compararmos a actual cidade com o que era antes da catástrofe, veremos que ficou bem melhor. Diante disso, percebe-se que os bons acontecimentos são, sem dúvida, positivos, mas os maus, por serem acções purificadoras, também o são, pois ao seu término, certamente tudo irá melhorar. Em outras palavras, não importa a situação: tudo é positivo. Compreender que viver com ou sem doença é bom, significa possuir a verdadeira paz interior.
Todavia, isso se limita aos que têm fé. Com os descrentes, ocorre o contrário: sofrimento gera sofrimento, a ansiedade piora a situação, que, por fim, se torna infernal. Por essa razão, o segredo da felicidade consiste em compreender esta verdade.
2 de dezembro de 1953
[1] Pecados e impurezas: Tsumikegare em japonês. O termo tsumikegare pode ser dividido em duas palavras: tsumi, que, no âmbito legal, se refere aos crimes, delitos e infrações e, no aspecto religioso, significa “pecado” e descreve qualquer desobediência à Vontade de Deus, em especial, qualquer desconsideração deliberada das Leis Divinas. Já a palavra kegare significa “impureza” e é utilizada particularmente no xintoísmo como termo religioso. São causas típicas de kegare o contato com qualquer forma de morte, parto, doença, menstruação, cuja condição pode ser remediada através de rituais de purificação.
- Princípio da correspondência: segundo Meishu-Sama, é o princípio em que os fatos e as coisas do mundo material têm correspondência com a situação espiritual dos envolvidos. Por exemplo, o local do corpo que está enfermo corresponde ao local do espírito que tem nuvens espirituais; o tipo de sofrimento que se está passando corresponde ao tipo de pecado cometido etc. Pelos caracteres em japonês, esta palavra pode ser entendida, também, como lei da concordância.
- Nota: aqui Meishu-Sama faz uma analogia do ser humano com um recipiente sujo que precisa ser limpo antes de ser usado.
Incêndio de Atami: grande incêndio ocorrido na cidade de Atami, província de Shizuoka, no Japão, em abril de 1950.