As Plantas Têm Vida Própria

Gosto muito de cuidar das plantas do jardim e procuro sempre acertar o formato delas, cortando seus galhos. Às vezes, porém, sem querer, acabo cortando demais ou errando as podas. Devido ao espaço ou à falta de alternativas, planto uma árvore em um lugar que não é do meu agrado. Além do mais, pelo mesmo motivo, sou forçado a deixar a parte da frente para trás ou meio de lado. Assim sendo, por algum tempo, toda vez que a observo, fico incomodado. O interessante é que parece que, aos poucos, a árvore vai-se acomodando e, com o passar do tempo, ela acaba se harmonizando perfeitamente com o lugar. Acho isso extraordinário e não consigo deixar de pensar que ela tem vida própria; que não há dúvida de que também possui espírito. Nesse ponto, assemelha-se aos seres humanos, que cuidam de sua aparência para não passarem vergonha perante os outros.

A respeito disso, tempos atrás, um mestre em jardinagem, já idoso, contou-me que, quando uma planta não dá flores a contento, ele se dirige a ela e diz: “Se você não florir este ano, serei obrigado a cortar você!” Segundo ele, assim procedendo, ela infalivelmente floresce. Ainda não fiz essa experiência, mas o facto parece-me verosímil. Deste modo, creio que não incorreremos em erro se lidarmos com a Grande Natureza, acreditando que tudo nela possui espírito. Havia, em um livro, o relato de um ocidental que cultivou uma árvore que geralmente leva quinze anos para crescer e que, por ter sido cuidada com amor, cresceu na metade do tempo, ou seja, em sete ou oito anos.

O mesmo pode ser dito em relação aos arranjos florais. Eu próprio vivifico flores em todos os cómodos de minha casa; entretanto, ainda que um ou outro arranjo não esteja do meu total agrado, deixo-o assim mesmo. No dia seguinte, noto que, diferentemente do dia anterior, as flores se acomodaram em uma boa posição, como se tivessem vontade própria. Vivifico as flores da maneira mais natural possível, sem forçar sua natureza de maneira alguma, para que elas possam, cheias de vida, durar por mais tempo. Quando mexemos nelas demasiadamente, morrem logo, o que não é nada interessante. Assim, quando vamos vivificar, devemos traçar na mente a composição final do arranjo, bem como cortar e fixar as flores com rapidez. Isso porque, assim como outros seres vivos, quanto mais mexermos, mais elas enfraquecerão. Essa lógica também se aplica ao ser humano. Na criação dos filhos, quanto mais os pais, preocupados, procuram cuidar excessivamente deles em todos os aspectos, mais fracos eles se tornam.

Por vivificar as flores à minha maneira, os arranjos duram mais que o dobro do normal, o que deixa as pessoas realmente surpresas. Por exemplo, em geral, não se usam bambu e bordo nos arranjos, certamente porque acham que os mesmos não vivem muito tempo; mas eu gosto de utilizá-los. Eles sempre duram de três a cinco dias; às vezes, o bambu leva mais de uma semana, e o bordo, cerca de duas. Além disso, qualquer que seja a flor, evito cortá-la, deixando-a como está. No entanto, geralmente os professores de arranjos florais despendem vários esforços para a or obter maior duração; mas isso é muito engraçado, pois estas acabam durando ainda menos.

Jornal Eiko no 220, 5 de Agosto de 1953

Alicerce do Paraíso vol. 5

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