De agora em diante, as pessoas precisam tornar-se universais. A propósito disso, tenho uma história interessante. Logo após a Segunda Guerra Mundial, um ex-militar procurou-me e, com uma fisionomia de profunda indignação e grande revolta, disse: “Não entendo de modo algum o motivo da rendição dos japoneses. É realmente inadmissível.”
Impressionado por eu não ter dado importância às suas palavras, perguntou-me: “O senhor é japonês?” Respondi-lhe: “Não, não sou japonês.” Ele ficou muito espantado e, trêmulo, insistiu: “Então, qual é a sua nacionalidade?” Eu disse: “Sou universal.” (…).
Enquanto o povo tiver o pensamento de que, se o próprio país estiver bem, não interessa como estejam os demais, certamente será impossível almejar a paz mundial. (…).
É como diz o famoso poema do imperador Meiji: “No mundo em que consideramos irmãos os povos dos quatro cantos do mundo, por que as ondas e os ventos hão de se enfurecer?” É exatamente isso. Se todos pensassem dessa forma, a paz mundial poderá ser estabelecida já a partir de amanhã. Se a humanidade passasse a cultivar esse sentimento amplo, os países constituiriam uma só família e não haveria por que eclodirem as guerras.
Pelo motivo que expliquei, mesmo atualmente, as pessoas formam grupos, dizendo- se defensoras de determinado princípio ou ideologia e consideram os demais como inimigos.
Discursos radicais como: “Sou favorável à política nacional”; “Sou dedicado à minha nação”; “Sou nacionalista”; “Meu país é divino”, além de levarem a nação a incorrer em erros, passam a constituir obstáculo para a paz mundial. Por esse motivo, em comemoração à assinatura do Tratado de Paz, é preciso que, pelo menos os japoneses se tornem universais, abandonando o pensamento limitado, shojo, que tiveram até agora, e aderindo ao pensamento amplo, daijo. De agora em diante, este será o pensamento progressista que se estabelecerá no mundo, o qual precisa de pessoas desse tipo.
Embora o assunto seja outro, ocorre o mesmo com a religião. Já está ultrapassado criar igrejas, seitas, divisões ou diferentes alas. Modéstia à parte, nossa Igreja não possui o mínimo sequer de pensamento mesquinho de proibir nossos adeptos de contatarem outras religiões. Ao contrário, esse contato é até motivo de alegria para nós, visto que nossa religião é pacifista, e seu objetivo é harmonizar a humanidade, fazendo do mundo uma só família. Assim, consideramos todas as religiões nossas companheiras e, dando-nos as mãos, procuramos caminhar juntas, amistosamente.
Jornal Eiko nº 124, 3 de Outubro de 1951
Alicerce do Paraíso vol. 5 (trechos)